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Exposição estimula ressocialização na Penitenciária Júlia Maranhão

sexta-feira, 27 de julho de 2012 - 16:57 - Fotos:  José Lins/Secom-PB
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Foto: José Lins/Secom-PB

O pátio da Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão, no bairro de Mangabeira, em João Pessoa, foi transformado em feira de artesanato, nesta sexta-feira (27), com a exposição “Castelo de Bonecas”, realizada pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Administração Penitenciária. A exposição reuniu cerca de 40 bonecas de pano produzidas por 10 apenadas.

A diretora da unidade prisional, Cinthya Almeida, disse que a expectativa é que ações como essa estimulem a imaginação e a criatividade das outras 400 apenadas, independente do segmento artístico a ser desenvolvido. “Certo dia percebi a criação ainda tímida de uma dessas bonecas e, por achar a ideia muito interessante, perguntei se elas não poderiam ensinar as técnicas para as demais. Depois conversamos com o grupo para tentar criar com mais frequência e, daí para frente, os resultados têm sido cada vez mais surpreendentes”, revelou.

O dinheiro arrecadado com a venda das bonecas será destinado à compra de materiais para a produção de novas peças, construídas com enchimento siliconizado, acrílico, algodão cru e colorido, lã de tricô, fitas, malhas, tecidos, linhas, cola e tintas. A compra do material é feita pelas apenadas do regime semi-aberto, que passam o dia em atividades profissionais e educacionais fora da unidade prisional e só retornam ao local no período noturno.

Os trabalhos são produzidos durante os turnos da noite e nos horários de almoço, além do tempo livre encontrado nos finais de semana. Segundo as internas, o trabalho é bastante corrido, pois objetos como tesouras e agulhas não podem ser levados para as celas, por isso elas sonham com um atelier específico para a produção das bonecas.

“Quando vendemos a primeira peça a sensação foi maravilhosa, e a partir daquele momento percebemos que o nosso trabalho estava sendo reconhecido. A meta é tentar ensinar os detalhes a um número maior de colegas, pois a atividade ocupa a mente e qualifica a pessoa para o mercado de trabalho”, comentou Sandra Maria, criadora da ideia, que está há dois anos cumprindo pena em regime fechado.

Antes de entrar no sistema penitenciário, Sandra já tinha experiência com artesanato em garrafas pets, mas afirmou que a iniciativa de construir bonecas de pano nasceu dentro da unidade Júlia Maranhão. A ideia já ultrapassa os muros da prisão e agora ela já pensa em abrir uma loja de artigos artesanais, a partir do momento que conquistar a liberdade.

O advogado criminal Dácio Galvão esteve no local para conversar com uma cliente e acabou comprando duas bonecas para as suas netas. O jurista ficou impressionado com o talento desenvolvido pelas novas artesãs e ainda acompanhou a venda de outras seis unidades, comercializadas durante a primeira hora de exposição.

“Além de incentivar uma atividade elaborativa, soluções como essa evitam a ociosidade da penitente e ainda trazem subsídios para elas. Ações desse nível são de alta relevância para o trabalho de ressocialização”, destacou Dácio Galvão.

A penitenciária feminina ainda desenvolve projetos nas áreas de crochê, tricô, ponto cruz, artes plásticas com jornais, artesanato com chinelos, pintura e desenho. A partir dessa mostra, as detentas esperam que novas portas possam se abrir, pois os grupos têm apresentado capacidade, interesse e talento no desenvolvimento de atividades desse gênero.

Frutos da ação – No período da exposição, representantes do projeto Restaurando Vidas, organizado pela Fundação Cidade Viva, acompanharam a iniciativa e avaliaram a possibilidade de comercializar os trabalhos através das ações da instituição.

A gerente executiva de Apoio aos Programas Governamentais da Secretaria de Turismo do Estado, Guilhermina Oliveira, também compareceu ao local e confirmou a exposição desses trabalhos no evento promovido pelo Governo do Estado durante as comemorações do Dia Internacional do Turismo, em 27 de setembro.

“No ano passado, algumas peças de outros segmentos foram levadas para o Dia Internacional do Turismo. Para a edição deste ano, as bonecas e os trabalhos com barro já estão convidados a participar da nossa programação”, comunicou.

O convite foi recebido com alegria pelas realizadoras da atividade, o que, segundo elas, é um estímulo a mais para seguir explorando novas ações dessa natureza. “Isso é apenas uma das portas que está se abrindo, pois sabemos que a discriminação é muito grande lá fora e já enxergamos pelo menos uma possibilidade para ganhar dinheiro quando sairmos daqui”, citou Regina Siqueira, que há 11 meses cumpre pena em regime fechado.