João Pessoa
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Pacientes que estavam em lista da morte por falta de hospitais começam atendidas

segunda-feira, 3 de agosto de 2009 - 14:33 - Fotos: 

O Hospital Infantil Arlinda Marques, em João Pessoa, começou a fazer cirurgias neurológicas de crianças paraibanas, que segundo os médicos, estavam em uma lista da morte com mais de 50 pacientes, por falta de um hospital no Estado, que as operasse.

Em pouco mais de um mês, foram feitos oito procedimentos cirúrgicos. Nesta fase inicial, o hospital terá capacidade para realizar duas neurocirurgias, por semana. A determinação do secretário estadual da Saúde, José Maria de França, é transformar a unidade em uma referência no Estado nas áreas de neuropediatria, ortopedia e cardiologia.

“O Estado não pode continuar tratando crianças com diarréia, pneumonia, virose e fimose – que podem e devem ser atendidas nas unidades básicas de saúde e em hospitais municipais de menor porte – enquanto meninos com tumores cerebrais, cardiopatias graves e problemas ósseos estão morrendo ou se juntando a uma legião de sequelados.

É preciso que cada um assuma a responsabilidade na assistência das crianças paraibanas. Se não for para ser um hospital de alta complexidade não há razão para o Arlinda Marques continuar sob a gerência do Estado”, afirmou.

Caso de Justiça – Na semana passada, o secretário se reuniu com a direção do hospital e com os médicos das equipes de neuropediatria e ortopedia e afirmou que ficou estarrecido e indignado com os relatos do dia-a-dia dos profissionais.

O neuropediatra, Jefferson Martins, disse que a estrutura que está sendo criada pela atual gestão era uma necessidade antiga. “O único hospital que temos para operar crianças com hidrocefalia, por exemplo, é o São Vicente, que é um hospital de adulto. Sem dúvida, a Paraíba precisa ter um hospital infantil de referência para esses e outros casos”, disse.

O neurocirurgião Christian Diniz disse que muitas crianças já morreram no Estado em uma fila que não andava, por falta de um serviço infantil. “Tentamos, nos últimos anos, de tudo para salvar essas crianças. Recorremos à Justiça, à Sociedade de Pediatria, às curadorias do Ministério Público e até ao ex-governador.

Algumas conseguimos salvar, mandando para o Hospital de Trauma ou para Recife, mas nunca conseguimos garantir a assistência na hora que os pacientes precisavam. Tudo era na agonia”, relatou.

Segundo o médico de 56 pacientes que ele e a oncologista Andréa Gadelha acompanharam desde 2007 (com hidrocefalia, tumores, aneurismas, fechamentos precoces de suturas cranianas e outros), pelo menos, 10 não resistiram e morreram. “Tem um caso que me chocou bastante: acompanhei uma criança de 4 anos ter morte encefálica por causa de um abscesso decorrente de uma sinusite.

E quantas não morrem com tumores, sem ao menos um diagnóstico? Essa era a nossa via crucis, que está perto de terminar com essa iniciativa do Governo do Estado, que assumiu esse compromisso com os médicos e com a população do Estado”, questionou o médico.

Câncer – A oncologista Andréa Gadelha endossou o depoimento do colega. “A cada caso que chegava, ficávamos enlouquecidos. Se operássemos não tinha UTI. A nossa luta é diária com as prefeituras que não se responsabilizam pelo transporte das crianças a um hospital, e com a falta de um serviço para diagnóstico.

No Hospital Laureano aumentaram os casos de crianças com tumores ósseos e precisamos garantir a rede de oncologia no Estado para diagnosticar precocemente e tratar esses casos”, disse. A médica recebeu a garantia do secretário de que o hospital daria o suporte necessário também à oncologia.

Por direito e não ‘por favor’ – a diretora-geral do Complexo de Pediatria Arlinda Marques, Darcy Lucena, disse que o hospital começou a fazer cirurgias neurológicas, vai iniciar as ortopédicas e as cardíacas, dentro de 15 dias, para não ver crianças morrendo à míngua, no Estado.

“Começamos com as de menores complexidades para evitar as mortes e que os leitos de UTIs continuem sendo ocupados por neuropatas e sequelados, que poderiam ter sido operados e não foram”, afirmou. “Tudo o que estava sendo feito pela criança no Estado era ‘por favor’, como se ela não tivesse direito”, endossou a diretora técnica, Neves Chianca.

O secretário José Maria de França garantiu que o que dependesse do Estado (equipamentos, novos leitos, reforma…) seria viabilizado para tornar o Arlinda Marques realmente um hospital infantil de referência no Estado.

“Não podemos tolerar mais depoimentos como esses que ouvi dos médicos. O Arlinda não pode continuar servindo como um grande posto médico. Há casos complexos a serem resolvidos. Há crianças morrendo. A gente entende que é preciso mudar uma cultura que foi construída ao longo dos anos, que depende da nossa vontade, mas também dos profissionais que estão na ponta. É um processo, que já começamos e não pode parar”, afirmou.

Equipes – A equipe da neuropediatria do Hospital Arlinda Marques é formada por dois neurocirurgiões, dois neuropediatras, um pediatra, um fisioterapeuta, um psicólogo e um enfermeiro. A ortopedia conta com dois ortopedistas pediatras. A equipe de cardiologia é chefiada pelo médico Maurílio Onofre e conta com cerca de 50 profissionais.

 
A meta é que, nos próximos 15 dias, o hospital comece a implementar um rotina semanal de duas cirurgias cardíacas, duas ortopédicas e duas neurológicas.

Assessoria de Imprensa da SES-PB