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Quedas lideram atendimentos no Hospital de Trauma de João Pessoa

sexta-feira, 31 de maio de 2013 - 12:03 - Fotos: 

As quedas aparecem em primeiro lugar nos relatórios do núcleo de Estatística do Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa. Dos 16.072 atendimentos registrados até abril deste ano, 2.800 casos foram provocados por quedas, sendo 1.315 pessoas na faixa etária de zero a 12 anos e 545 acima de 60 anos. Em seguida, aparecem as vítimas de acidentes de moto com 1.797 entradas.

O núcleo de Estatística do Trauma da Capital comprova que nos últimos três anos o primeiro lugar no socorro às vítimas se dá por conta das quedas, e em segundo lugar, aparecem os acidentes de moto. Dos 49.677 atendimentos na unidade hospitalar no ano passado, 8.588 pessoas tiveram assistência em decorrência das quedas, com segundo lugar para os acidentes de moto onde houve o registro de 5.642 casos.

Já em 2011, das 57.114 pessoas atendidas, os números altos por quedas continuam no topo do ranking com 8.875 casos contra 6.265 acidentes de moto. Dos 68.313 atendimentos em 2010, 10.395 foram registrados por conta das quedas, sejam elas da própria altura, escadas, árvores, entre outros, enquanto os acidentes de moto provocaram o socorro a 6.991 vítimas.

A prevenção é a melhor forma de evitar acidentes. É o que atesta o neurocirurgião do Hospital de Trauma, Leonardo Matias, pois no ramo onde atua, por exemplo, as quedas podem provocar desde um simples hematoma a um traumatismo craniano grave.

Ele recomendou que em casos de queda no público infantil, os pais devem observar sinais de alerta como: perda da consciência, vômito por mais de três vezes, convulsão, sonolência excessiva e confusão mental nas primeiras seis horas do acidente. “Todos esses sinais e sintomas podem estar presentes, significando que alerta a necessidade de maiores cuidados. A ausência deles diminui as chances da vítima estar com um problema mais sério, como um traumatismo crânio-encefálico (TCE) moderado ou grave, mas não exclui totalmente, sendo necessária avaliação médica, principalmente em menores de dois anos”, lembrou.

Leonardo Matias que atua no Trauma há dois anos percebeu que a maioria das crianças atendidas na unidade por quedas é acometida por TCE leve. Ele lembrou que o tratamento para esses casos ainda é conservador, onde o paciente deve ter repouso e ser submetido à observação neurológica e tratamento dos sintomas.

Ele lembrou que após a queda o ideal é manter a criança acordada por pelo menos seis horas, pois é preciso para se fazer uma avaliação. “Se após a alta médica a criança desenvolver os sinais de alerta citados é importante retornar a um serviço de saúde”, informou.

Dicas de cuidado – Na infância, o neurocirurgião destacou que é preciso prevenir as quedas com medidas simples como: nunca deixar os menores de dois anos sozinhos em cima de uma cama ou berço, caso precise, fazer uso das grades, e no bebê conforto utilizar o cinto de segurança. Ele recomendou que ainda é preciso proteger as quinas dos móveis, evitar objetos espalhados pela casa, não fazer uso de andador, proibir a utilização de escadas, evitar que as crianças subam em grades e árvores, entre outros.

Leonardo destacou a alta incidência de quedas em idosos e revelou ainda que o período de observação para a faixa geriátrica é mais prolongado, pois as consequências do trauma craniano podem se manifestar após semanas ou até mesmo meses após a queda. Havendo confusão mental, sonolência ou perda de força, os idosos devem ser levados a um serviço de saúde, sendo informado que houve queda anterior.

Já o chefe dos serviços de ortopedia e traumatologia do Hospital de Trauma, Milton Linhares disse que as consequências das quedas de um modo geral dependem da altura em que a vítima estava, a idade, a intensidade do trauma e a posição em que ficou o acidentado. E exemplificou: “uma queda no idoso, na própria altura pode ocasionar fraturas, mas, num paciente jovem provocar apenas uma contusão. O conjunto dos fatores citados é que vão determinar o tipo de consequência ao paciente”.

O ortopedista lembrou que ao contrário do idoso que possui baixa massa muscular e na maioria das vezes tem osteoporose, as crianças têm maior elasticidade e flexibilidade, e por isso, tem menos chances de ter fraturas. “Na infância, a questão é que pela inquietação, própria dessa faixa etária, elas tendem a cair mais e com isso aumentar os riscos de fraturas em decorrência do excessivo número de quedas”, disse.

Milton Linhares informou que na terceira idade, além da fragilidade óssea decorrente da osteoporose, as quedas são determinantes por outros problemas de saúde como: tonturas por conta da hipertensão e diabetes, déficit na visão, entre outros.

Ele lembrou que as crianças, vítimas de quedas no Trauma em geral dão entrada com fraturas de antebraço, cotovelos e fêmur, associados à TCE. Já os idosos que sofrem quedas e são atendidos na unidade são acometidos de fratura de coluna, fêmur proximal e antebraço.

O ortopedista da unidade, Douglas Teixeira, também recomendou a medicina preventiva para evitar esses casos e disse que é preciso abolir os pisos escorregadios e irregulares, além de tapetes, e ainda defendeu a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) na prática de esportes e no caso dos idosos, recomendou que é preciso adotar um tratamento de base para tratar os problemas de saúde decorrentes dessa faixa etária como a hipertensão, diabetes, entre outros.

Ainda de acordo com Douglas, estatísticas da Sociedade Internacional de Densitometria Clínica apontam que 20% dos pacientes que têm fratura de fêmur proximal morrem em 1 ano após o evento, 30% são institucionalizados e 40% são dependentes de terceiros. “Isto evidencia o alto custo social e individual deste imenso problema de saúde pública. “No Brasil, por exemplo, existem 6 milhões de pessoas com osteoporose que é fator determinante para o agravamento dos problemas advindos das quedas na terceira idade”, lembrou.

Medidas internas – O próprio Hospital de Trauma tem demonstrado, na prática, os cuidados com os seus colaboradores em relação às quedas. Diariamente, uma técnica de segurança de plantão do Serviço Especializado de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (Sesmt) realiza uma operação denominada de Diálogo Direto de Segurança (DDG) em todos os setores onde é observado o desempenho das tarefas e prestadas orientações na prevenção dos riscos de acidentes de trabalho, entre eles, as quedas.

Conforme o coordenador do Sesmt do Trauma, Moisés Faustino da Rocha, quando determinados setores vão executar tarefas em lugares altos na unidade, o setor é avisado 24 horas de antecedência. “Um técnico se dirige ao local do serviço para acompanhar o desempenho dos trabalhos e lá presta orientações a fim de evitar as quedas”, acrescentou.

Lesões fatais – Estimativas dos Estados Unidos mostram que as quedas são a causa principal de lesões não fatais para crianças e adolescentes até 19 anos e que, anualmente, cerca de 2,8 milhões de criançase 1,7 milhão de idosos com 65 anos ou maissão atendidos em serviços de emergência naquele país.

No Brasil, as quedas têm impacto no perfil da mortalidade da população, porém têm maior relevância ainda na morbidade, de acordo com as fontes oficiais de informação de saúde. Os dados para o ano de 2009, disponibilizados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), mostraram que houve 9.171 vítimas fatais por essa causa, representando 6,6% do total de mortes decorrentes de causas externas.

Em relação às vítimas não fatais, dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) para o ano de 2009 mostram que ocorreram mais de 320 mil internações no sistema público de saúde brasileiro por lesões decorrentes de quedas no ano de 2009, o que representou quase 40% do total de internações do grupo das causas externas.

O Sistema Nacional de Serviços Sentinelas de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA, componente inquérito) foi implantado em 2006 pelo Ministério da Saúde visando conhecer o perfil dos acidentes e violências que demandam as emergências. Estudos realizados com dados coletados nos atendimentos por causas externas em serviços públicos de urgência e emergências hospitalares que fazem parte do VIVA apontam que essas causas representaram a maior proporção dos atendimentos.

Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) da Secretaria de Estado da Saúde (SES), nos últimos três anos na Paraíba quase 500 pessoas foram a óbito em decorrência das quedas.