“Educação e Cidadania” foi o tema da oficina desenvolvida pelos estudantes do projeto de extensão ‘Ressocialização Feminina – Direitos Humanos e Cidadania’, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na tarde dessa quarta-feira (31), na Penitenciária de Recuperação Feminina Júlia Maranhão, numa parceria entre a instituição de ensino e a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap).
A atividade contou com apresentação de uma peça teatral sobre a dificuldade de camponeses que migram para as grandes cidades e se deparam com uma nova realidade e os impactos da vida urbana, o que remete à reflexão sobre os direitos das pessoas, inclusive aquelas que se encontram privadas da liberdade, que devem ter os demais direitos garantidos. A programação contou ainda com aplicação de questionário, apresentação musical, reflexão sobre direitos humanos e um recital com a poesia intitulada “Uma flor atrás das grades”, de autoria da apenada Rafaela Moura Rodrigues.
O secretário de Administração Penitenciária, Wallber Virgolino, destacou a importância do processo de ressocialização por meio da educação e cidadania. “Essas ações são muito bem vindas ao sistema prisional, uma vez que proporciona a troca de informações entre as reeducandas e estudantes universitários de diferentes áreas, além de ser uma forma de combate ao preconceito e ao isolamento social. Por isso, quero agradecer publicamente aos professores e estudantes envolvidos neste importante programa educativo e social, que traz para dentro dos muros do presídio, informações cruciais, além de direitos humanos e cidadania”.
Para o professor Timothy Ireland, coordenador do grupo de educação do projeto, o fato de participar e elaborar um projeto cotidianamente, sentindo as necessidades das usuárias e selecionando o que mais vai contribuir para o desenvolvimento delas, é primordial. “Além de que, os participantes do grupo podem descobrir, com esta experiência, que as pessoas atendidas são os sujeitos do processo”.
O juiz de Execuções Penais da Capital, Carlos Neves da Franca Neto, que também é coordenador do Grupo de Monitoramento de Fiscalização do Sistema Carcerário da Capital, esteve presenta na atividade. “É um trabalho criterioso que visa trazer um diagnóstico efetivo sobre a estrutura e o funcionamento do Presídio Feminino e também a situação de algumas presas que estão sendo acompanhadas pelos estudantes de Direito. É importante essa parceria porque trás subsídios para que o sistema possa melhorar. Estão de parabéns a penitenciária feminina e a Secretaria de Administração Penitenciária por abrir as portas para processo como este”.
A reeducanda Rafaela Moura também falou sobre o projeto. “É bem produtivo, é um sonho e uma esperança a mais. Muitas das meninas aqui não têm nem visita e a nossa expectativa é sair daqui e nos reintegrar à sociedade. Eu gosto muito de ler e escrever e com esses projetos eu me sinto muito bem”. Abaixo, o poema de autoria da apenada.
Uma flor atrás das grades
Minhas amigas companheiras
Não precisamos nos conhecer
Basta apenas que nos respeitemos
E aprendemos a sobreviver
Não me importa a sua culpa
Rica ou pobre, não interessa
Aqui somos todas iguais
Cada uma sabe se presta
O que vivemos aqui
Serve para aprender
A dar valor as pequenas coisas
Que lá fora fazíamos questão de esquecer
A justiça nos pôs aqui
Mas só Deus vai nos julgar
Estamos aqui só de passagem
Nossa liberdade vai chegar