O algodão colorido orgânico – produzido no interior da Paraíba – é a tipologia homenageada na 23ª edição do Salão de Artesanato. O evento acontece de 15 a 31 de janeiro, no Espaço Cultural José Lins do Rego, na Capital, e destaca peças produzidas com as variedades safira, topázio e rubi.
Com o tema “O espaço é do povo e o algodão colorido é paraibano”, pela primeira vez a organização do Programa de Artesanato da Paraíba (PAP) homenageia o algodão que se tornou símbolo regional em lojas de artigos para turistas e, também, ganhou o status de peças de luxo em feiras nacionais e internacionais nos mercados de exportação para países europeus como a Itália, Espanha, Alemanha e França. O produto também já chegou ao Japão e Estados Unidos.
Cultivo sustentável – No Agreste paraibano, o cultivo se tornou a principal fonte de renda para cerca de 30 famílias do Assentamento Margarida Maria Alves (maior produtor local), no município de Juarez Távora, a cerca de 100 km de João Pessoa.
A quantidade de hectares cultivada ainda é pequena para que seja incluída nas estatísticas oficiais de produção do algodão no país, mas destaca-se pelo uso sustentável da água, dispensa de pesticidas e adubos químicos; sem falar da qualidade do material.
Mesmo com a produção limitada e considerada uma novidade na indústria têxtil, os agricultores comemoram o valor de mercado que está acima do tradicional algodão branco. “Não precisa de muita água. Começamos a plantação em junho e agora, em novembro, teve início a colheita. Com a homenagem, temos mais é que produzir e incentivar os outros também”, disse o agricultor Luis Rodrigues da Silva, seu Betinho, 66 anos.
Aluísio Rodrigues, também agricultor, disse que sempre viveu na região e que a decisão pelo algodão colorido foi a melhor opção para aumentar a renda da família. “Eu fiquei curioso com a nova semente e resolvi plantar. A renda é melhor, tem mais preço. Sem falar que antes a gente nem sabia aonde iam parar essas plumas, agora temos a compra certa, sabemos que servem para fazer roupas que vão até para fora do país e ainda somos presenteados com elas. Depois da colheita, soltamos os animais no campo, os bichos comem os restos das plantas, a gente corta o que sobra e deixa o campo limpo para a próxima plantação”, explicou.
Para a gestora do PAP, Lu Maia, com a visibilidade proporcionada pelo Salão, o desafio será ampliar a produção para atender a demanda dos novos mercados. “Grandes marcas de confecções já demonstram interesse em desenvolver linhas sustentáveis. Elas precisam ter mais informações sobre o produto para ter um consumo consciente pensando nas futuras gerações. A questão da sustentabilidade também precisa entrar na agenda da cadeia produtiva têxtil. É preciso ter essa consciência desde a produção da matéria-prima, passando por todos os processos de produção até chegar ao consumidor final. Ainda há muito a ser feito”, ressaltou.
Etapas da produção – Como o produto já nasce colorido, a fibra dispensa o uso de produtos químicos para tingir o tecido economizando água no processo de acabamento da malha. O algodão é beneficiado em uma usina no próprio assentamento com descaroçadeira. A máquina separa a semente da fibra que segue para as indústrias de fiação e, logo em seguida, para teares mecânicos rústicos presentes ainda em muitos municípios.
“Nesta safra vamos tentar transformar o caroço em torta para o gado e retirar o óleo bastante rico para a indústria dos cosméticos, pois já temos empresas interessadas nesse produto. A garantia de compra da produção do algodão colorido deu segurança ao produtor para ele realizar o plantio e alimentar a cadeia produtiva do Estado que envolve tecelagens, confecções e indústrias de moda e decoração. Temos que homenagear esses trabalhadores sim, pois se eles não plantarem, não temos o que produzir. Nós discutimos tudo com eles, mostramos nossos custos e eles também porque todos os elos da cadeia precisam sair ganhando”, relatou a empresária e designer Francisca Vieira.
Ela disse ainda que para atrair um público exigente aposta cada vez mais no design arrojado. “Nosso produto não é uma peça simplesmente regional. Para diversificar as cores utilizamos tingimentos naturais à base de casas e folhas de plantas como cajueiro, mangueira e barbatimão”, revelou Francisca.
Novas cores – Após mais de 20 anos de melhoramento genético, com o apoio da Emprapa, foi obtido uma variedade de plumas coloridas englobando cinco tonalidades que vão do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado. Ainda está previsto para os próximos anos uma outra variedade marrom, com melhor qualidade de fibra para a indústria têxtil. Uma outra linha de pesquisa também busca obter o algodão de cor azul já que ele não existe na natureza. No entanto, isto será apenas possível recorrendo à biotecnologia para transferir o gene que fornece a cor azul para a fibra do algodão, o que reduziria significativamente o uso de tinta na indústria.